21 de março de 2008

Adrian me contou sua história um dia. Ele é um cara fechado e não é com qualquer um que se abre. Há alguns anos atrás isso era diferente. Ele era um idiota que não sabia sequer metade da vida que estaria por enfrentar. Um cara ridículo. Mas me apaixonei por sua historia.
Naquele dia, o movimento não estava lá aquelas coisas. Então percebi certa nostalgia no olhar de Adrian. Perguntei-o o que era. Mas ele, como sempre muito fechado, não falou. Também não insisti. Nunca fui uma pessoa de insistir quando alguém não queria falar.
Eu nunca entendi o que se passava pela cabeça de Adrian. Existia algo estranho em seu olhar.
Na verdade, ele queria falar, mas não insistiu. Ficamos os dois em silencio. Até quando ele desandou a falar.
-Eu era estúpido, acreditava em tudo que me contavam. Meus amigos não me suportavam mais com aquelas historinhas de “vida desregrada”, mas eu não entendia isso. Sentia-me bem fazendo o que fazia. E até hoje, não descobri um tempo melhor em minha vida do que aquele.
Olhei-o fixamente. Ele estava prestes a se abrir comigo. Senti-me alguém importante.
-Tinha quinze anos quando conheci um cara que iria mudar minha vida. O nome dele era Kevin e, apesar de ter a mesma idade que eu, parecia que tinha uns dez anos a mais. Ele me mostrou o prazer da vida, me ensinou coisas que minha mãe nunca me falaria, e que meus “amiguinhos de primário” nunca saberiam. Ele era um cara com boas histórias pra contar. Naquele momento, eu não sabia, mas Kevin mudaria minha vida.
-Como assim?
-Ele me mostrou que a vida não era somente aquele mundinho besta em que vivia. Que existiam mais coisas a se experimentar, a se conhecer, que a vida ia além do meu pensamento pequeno.
-E o que você conheceu e experimentou?
-De tudo. De tudo mesmo. Antes de Kevin eu achava que a mediocridade em que vivia era algo bom, e que me tornaria alguém com aquilo. Andava com pessoas que tinham o mesmo pensamento que eu. Um pensamento limitado e egocêntrico. Amigos que não mereciam minha amizade, mas mesmo assim, os tinha com carinho. Eu era um bostinha qualquer. E o pior é que eu não via isso.
-Mas Kevin...
-Kevin me mostrou isso.
Um silêncio pairou no ar. Eu sabia do que Adrian estava falando, mas também não quis perguntar, deixasse que falasse.
Ouvi um suspiro, e assim, ele continuou:
-Vivi o melhor ano de minha vida. Meus quinze anos foram perfeitos. Mas havia um problema... Estava me afastando de tudo... de todos. E percebi um dia que só me havia restado Kevin. Mas ele tinha outros amigos também, era um cara conhecido. Aliás, amigos nunca faltaram a Kevin. Mas assim mesmo, continuei vivendo aquela vida, aproveitei tudo que tinha para ser aproveitado e não me arrependo. Não me arrependo de nada que se passou.
Nunca havia escutado sobre o passado de Adrian. Ele era um cara frio, que não se preocupava com os outros. Mas não sabia que fora a vida que o transformara desse jeito.
-Mas o que houve com Kevin? Vocês ainda se falam?
Ele abaixou a cabeça. Suspirou novamente. Vi uma lágrima escorrer de seus olhos. Adrian estava triste. E eu, pela primeira vez, o vi chorar.
-Kevin morreu dois anos após eu o ter conhecido. Ele mudou minha vida, e foi-se.

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