23 de março de 2008

“Doce contentamento já passado”

É difícil viver a vida sem saber o que acontecerá amanhã, mas é fácil acabar com seu futuro com um só gesto, uma só expressão.
É difícil conviver com um arrependimento, mas é fácil errar.
É difícil viver em um mundo cheio de guerras, mas para se armar uma, basta um olhar, uma palavra.
É difícil fazer as pessoas felizes quando estamos tristes.
É difícil manter a educação quando queremos mandar tudo para o inferno.
É difícil tornar nossos sonhos realidade, mas é fácil sonhar.
É difícil estar em um lugar desejando estar em outro.
É difícil viver, mas para morrer só precisamos de um bandido com uma arma (às vezes nem isso.).
É difícil voltar no tempo e reparar os erros que cometemos no passado, e às vezes, quando nos damos conta, a pessoa que magoamos e maltratamos não está mais do nosso lado para pedirmos desculpas.
O tempo passa.
A vida passa.
E o que você faz para aproveitar o seu tempo, a sua vida?
A vida é muito difícil, mas temos que aproveitar cada momento, cada sinal.
Aproveite seus amigos! O que você fez por eles hoje?
Aproveite também os seus professores, ao contrário do que pensava, eles não duram para sempre, e haverá uma hora que eles não estarão mais ao nosso lado.…
É difícil ir embora com vontade de ficar.

21 de março de 2008

Adrian me contou sua história um dia. Ele é um cara fechado e não é com qualquer um que se abre. Há alguns anos atrás isso era diferente. Ele era um idiota que não sabia sequer metade da vida que estaria por enfrentar. Um cara ridículo. Mas me apaixonei por sua historia.
Naquele dia, o movimento não estava lá aquelas coisas. Então percebi certa nostalgia no olhar de Adrian. Perguntei-o o que era. Mas ele, como sempre muito fechado, não falou. Também não insisti. Nunca fui uma pessoa de insistir quando alguém não queria falar.
Eu nunca entendi o que se passava pela cabeça de Adrian. Existia algo estranho em seu olhar.
Na verdade, ele queria falar, mas não insistiu. Ficamos os dois em silencio. Até quando ele desandou a falar.
-Eu era estúpido, acreditava em tudo que me contavam. Meus amigos não me suportavam mais com aquelas historinhas de “vida desregrada”, mas eu não entendia isso. Sentia-me bem fazendo o que fazia. E até hoje, não descobri um tempo melhor em minha vida do que aquele.
Olhei-o fixamente. Ele estava prestes a se abrir comigo. Senti-me alguém importante.
-Tinha quinze anos quando conheci um cara que iria mudar minha vida. O nome dele era Kevin e, apesar de ter a mesma idade que eu, parecia que tinha uns dez anos a mais. Ele me mostrou o prazer da vida, me ensinou coisas que minha mãe nunca me falaria, e que meus “amiguinhos de primário” nunca saberiam. Ele era um cara com boas histórias pra contar. Naquele momento, eu não sabia, mas Kevin mudaria minha vida.
-Como assim?
-Ele me mostrou que a vida não era somente aquele mundinho besta em que vivia. Que existiam mais coisas a se experimentar, a se conhecer, que a vida ia além do meu pensamento pequeno.
-E o que você conheceu e experimentou?
-De tudo. De tudo mesmo. Antes de Kevin eu achava que a mediocridade em que vivia era algo bom, e que me tornaria alguém com aquilo. Andava com pessoas que tinham o mesmo pensamento que eu. Um pensamento limitado e egocêntrico. Amigos que não mereciam minha amizade, mas mesmo assim, os tinha com carinho. Eu era um bostinha qualquer. E o pior é que eu não via isso.
-Mas Kevin...
-Kevin me mostrou isso.
Um silêncio pairou no ar. Eu sabia do que Adrian estava falando, mas também não quis perguntar, deixasse que falasse.
Ouvi um suspiro, e assim, ele continuou:
-Vivi o melhor ano de minha vida. Meus quinze anos foram perfeitos. Mas havia um problema... Estava me afastando de tudo... de todos. E percebi um dia que só me havia restado Kevin. Mas ele tinha outros amigos também, era um cara conhecido. Aliás, amigos nunca faltaram a Kevin. Mas assim mesmo, continuei vivendo aquela vida, aproveitei tudo que tinha para ser aproveitado e não me arrependo. Não me arrependo de nada que se passou.
Nunca havia escutado sobre o passado de Adrian. Ele era um cara frio, que não se preocupava com os outros. Mas não sabia que fora a vida que o transformara desse jeito.
-Mas o que houve com Kevin? Vocês ainda se falam?
Ele abaixou a cabeça. Suspirou novamente. Vi uma lágrima escorrer de seus olhos. Adrian estava triste. E eu, pela primeira vez, o vi chorar.
-Kevin morreu dois anos após eu o ter conhecido. Ele mudou minha vida, e foi-se.
Ela aproveitava cada momento como se fosse o último. Apesar de tudo, eu via em seus olhos um brilho especial, um brilho que radiava e iluminava sua áurea de menina.
Menina ela não era mais, mas eu adorava pensar que por trás daquela mulher quase formada existia uma garotinha frágil que ainda dependia de mim. E eu a via assim.
Ela saiu de casa aos dezesseis anos, foi uma garota precoce. Ela cresceu como nenhuma garota de sua idade cresceria, aprendeu o que nenhuma garota de sua idade aprenderia, experimentou coisas que nenhuma garota de sua idade experimentaria: o gosto amargo da vida.
Às vezes me lembro com melancolia quando ela chegava do colégio e vinha aos meus braços me contar o que tinha feito em seu dia. Ou então quando eu ficava horas e horas esperando ela dormir. E seu sono... Ah, seu sono tão delicado e macio me acalmava também.
Agora? Bem, agora ela estará em algum lugar desse mundo, em alguma esquina imunda, sendo engolida pelas calçadas que o destino havia reservado a ela.
Eu sei que a culpa não foi minha. Ela fez tudo por conta própria. Era uma garota muito esperta e sempre tinha certeza do que queria.
Sempre carrego em minha carteira uma foto sua. Para me lembrar como era o brilho de seus olhos. E sinto saudade de quando a imagino como aquela menina doce, mas diga a ela que não quero que volte, pois ela mudou e não é mais a garotinha dos sonhos delicados.